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Refluxo e Azia: Quando Devo me Preocupar e Procurar um Gastroenterologista

Refluxo e Azia: Quando Devo me Preocupar e Procurar um Gastroenterologista

Refluxo e Azia: Quando Devo me Preocupar e Procurar um Gastroenterologista

Refluxo e Azia: Quando Devo me Preocupar e Procurar um Gastroenterologista


A sensação de queimação no peito após uma refeição, conhecida como azia, e o retorno do conteúdo do estômago para o esôfago, o refluxo, são experiências que a maioria das pessoas já teve. Embora episódios ocasionais sejam comuns e geralmente inofensivos, quando esses sintomas se tornam frequentes e intensos, eles podem ser um sinal de alerta para a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), uma condição crônica que, se não tratada, pode levar a complicações sérias. Saber diferenciar um desconforto passageiro de um problema de saúde que exige atenção é fundamental para proteger seu esôfago e sua qualidade de vida.

Na Clínica Apoena Saúde, entendemos que a saúde digestiva é a base para o bem-estar geral. Nosso time de gastroenterologistas está preparado para oferecer um cuidado humanizado e preciso, investigando a fundo as causas do seu refluxo e azia e criando um plano de tratamento personalizado. Nosso objetivo é não apenas aliviar seus sintomas, mas também prevenir complicações futuras e restaurar seu conforto e tranquilidade ao se alimentar.

Veja a seguir os tópicos que serão selecionados neste blog post sobre “Refluxo e Azia: Quando Devo me Preocupar e Procurar um Gastroenterologista”:

  1. Qual a diferença exata entre refluxo, azia e queimação?
  2. O que é a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e como ela funciona?
  3. Quais são as principais causas e fatores de risco para o refluxo crônico?
  4. Além da azia, quais outros sintomas podem indicar a presença de refluxo?
  5. Quando o refluxo e a azia deixam de ser normais? Conheça os sinais de alerta.
  6. Quais são as complicações a longo prazo do refluxo não tratado?
  7. O que é o Esôfago de Barrett e qual sua relação com o câncer?
  8. Como o gastroenterologista faz o diagnóstico preciso do refluxo?
  9. O que é a endoscopia digestiva alta e quando ela é necessária?
  10. Quais mudanças na alimentação e no estilo de vida podem controlar o refluxo?
  11. Quais são os principais medicamentos utilizados para tratar o refluxo e a azia?
  12. O uso contínuo de "prazóis" (IBPs) é seguro?
  13. O que é a hérnia de hiato e qual sua relação com o refluxo?
  14. A cirurgia é uma opção para o tratamento do refluxo? Para quem é indicada?
  15. O refluxo pode causar sintomas respiratórios como tosse crônica e asma?
  16. Onde procurar ajuda especializada para o diagnóstico e tratamento do refluxo?
  17. Conclusão

Agora que você já conferiu os principais tópicos que abordaremos, é hora de mergulhar neste guia completo sobre refluxo e azia. Continue a leitura para entender as causas, reconhecer os sinais de perigo e descobrir as melhores estratégias para controlar seus sintomas e cuidar da sua saúde digestiva com o apoio de um especialista.

1. Qual a diferença exata entre refluxo, azia e queimação?

No dia a dia, os termos refluxo, azia e queimação são frequentemente usados de forma intercambiável, mas na medicina, eles descrevem conceitos diferentes, embora interligados. Entender essa distinção é o primeiro passo para comunicar seus sintomas de forma mais clara ao médico.

  • Refluxo (ou Refluxo Gastroesofágico): Este termo descreve o evento físico, o mecanismo em si. O refluxo é o retorno anormal do conteúdo que está dentro do estômago (que inclui ácido gástrico, pepsina, bile e alimentos parcialmente digeridos) para o esôfago, o tubo que conecta a garganta ao estômago. Ocasionalmente, esse conteúdo pode subir até a garganta ou a boca, causando um gosto amargo ou ácido, um sintoma conhecido como regurgitação. Portanto, o refluxo é a ação de "voltar". Ele é a causa do problema.
  • Azia (ou Pirose): Este termo descreve o sintoma mais clássico causado pelo refluxo. A azia é a sensação de queimação ou ardência que sobe do estômago em direção ao peito, podendo chegar até a garganta. Ela ocorre porque o revestimento do esôfago é muito mais sensível e delicado do que o do estômago e não está preparado para suportar a acidez do conteúdo gástrico. Quando o refluxo acontece, o ácido irrita e inflama a mucosa do esôfago, gerando essa sensação dolorosa de queimação. Portanto, a azia é a principal consequência sensorial do refluxo.
  • Queimação: Este é um termo mais genérico para descrever a sensação de ardência, sendo frequentemente usado como sinônimo de azia. No entanto, "queimação" também pode ser usada para descrever uma dor ou desconforto na "boca do estômago" (região epigástrica), que pode estar relacionada a outras condições, como gastrite ou úlcera, e não necessariamente ao refluxo para o esôfago. Quando a queimação é sentida no peito, atrás do osso esterno, o termo médico correto é azia (pirose).

Em resumo: o refluxo é o ato de o conteúdo estomacal subir; a azia é o sintoma de queimação no peito que esse refluxo causa. Você pode ter refluxo sem necessariamente sentir azia (o chamado refluxo não ácido ou "refluxo silencioso", que causa outros sintomas), mas a azia é quase sempre um sinal de que o refluxo está ocorrendo.

2. O que é a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e como ela funciona?

Enquanto um episódio ocasional de refluxo é normal, a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é uma condição crônica e mais séria. A DRGE é diagnosticada quando o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas incômodos (como azia frequente) e/ou complicações, como a inflamação do esôfago (esofagite).

Para entender como a DRGE funciona, é crucial conhecer a anatomia da junção entre o esôfago e o estômago. Nessa transição, existe uma válvula muscular em forma de anel chamada Esfíncter Esofágico Inferior (EEI).

Funcionamento Normal: Em uma pessoa saudável, o EEI funciona como um portão unidirecional. Ele se abre para permitir que a comida passe do esôfago para o estômago e, em seguida, se fecha firmemente para impedir que o conteúdo ácido do estômago volte.

O que Acontece na DRGE: Na Doença do Refluxo Gastroesofágico, essa válvula não funciona corretamente. O problema principal geralmente está em relaxamentos transitórios e inadequados do esfíncter. Por razões ainda não totalmente compreendidas, o EEI se abre em momentos inoportunos, fora da deglutição, permitindo que o ácido e outros conteúdos do estômago escapem para o esôfago.

Além dos relaxamentos transitórios, outros fatores podem contribuir para a falha dessa barreira antirrefluxo:

  • Baixa Pressão do Esfíncter: Em algumas pessoas, o músculo do EEI é intrinsecamente mais fraco, não conseguindo manter uma pressão de fechamento suficiente para conter o conteúdo do estômago.
  • Hérnia de Hiato: Uma condição em que uma parte do estômago desliza para cima, através de uma abertura no diafragma (o hiato), para dentro do tórax. A presença da hérnia de hiato pode comprometer a função do EEI e facilitar o refluxo.
  • Aumento da Pressão Intra-abdominal: Condições que aumentam a pressão dentro do abdômen "empurram" o estômago e forçam seu conteúdo contra o esfíncter. Isso ocorre na obesidade, na gravidez e até mesmo ao usar roupas muito apertadas na cintura.
  • Esvaziamento Gástrico Lento: Se o estômago demora mais para esvaziar seu conteúdo para o intestino, a comida e o ácido permanecem ali por mais tempo, aumentando a chance de ocorrer refluxo.

Portanto, a DRGE não é um problema de "excesso de ácido", como muitos pensam. É fundamentalmente um problema mecânico: uma falha na barreira que deveria manter o conteúdo gástrico em seu devido lugar. O tratamento visa, portanto, reduzir a agressividade do material que reflui (diminuindo a acidez) e fortalecer ou corrigir essa barreira defeituosa.

3. Quais são as principais causas e fatores de risco para o refluxo crônico?

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é uma condição multifatorial, com seu desenvolvimento influenciado por uma combinação de fatores anatômicos, fisiológicos e de estilo de vida. Compreender essas causas e fatores de risco é essencial para a prevenção e o manejo eficaz do refluxo crônico.

Fatores Anatômicos e Fisiológicos:

  • Disfunção do Esfíncter Esofágico Inferior (EEI): Como mencionado, esta é a causa central. Relaxamentos transitórios inadequados ou uma baixa pressão basal do esfíncter permitem o retorno do conteúdo gástrico.
  • Hérnia de Hiato: A presença de uma hérnia de hiato é um dos principais fatores de risco, pois distorce a anatomia da junção esofagogástrica e enfraquece a barreira antirrefluxo.
  • Obesidade e Sobrepeso: O excesso de peso, especialmente a gordura abdominal, aumenta a pressão dentro do abdômen, o que comprime o estômago e força o ácido a subir. A obesidade é um dos fatores de risco mais fortes e reversíveis para o refluxo.
  • Gravidez: O aumento do útero também eleva a pressão intra-abdominal, e as alterações hormonais (principalmente a progesterona) podem relaxar o músculo do EEI, tornando o refluxo e a azia extremamente comuns durante a gestação.
  • Esvaziamento Gástrico Retardado (Gastroparesia): Condições como o diabetes mal controlado podem retardar o esvaziamento do estômago, aumentando o volume e o tempo de permanência do alimento no estômago, o que favorece o refluxo.

Fatores de Estilo de Vida e Dieta:

  • Tabagismo: Fumar afeta a DRGE de várias maneiras: diminui a pressão do EEI, reduz a produção de saliva (que ajuda a neutralizar o ácido no esôfago) e pode aumentar a secreção de ácido no estômago.
  • Consumo de Álcool: O álcool relaxa o esfíncter esofágico inferior e pode irritar diretamente a mucosa do esôfago.
  • Alimentos e Bebidas Desencadeantes: Certos alimentos podem piorar os sintomas em pessoas predispostas, seja por relaxarem o EEI ou por serem mais irritantes. Os gatilhos mais comuns incluem: Alimentos gordurosos e frituras (demoram mais para serem digeridos), Chocolate e hortelã (relaxam o EEI), Alimentos ácidos (tomate e frutas cítricas), Comidas apimentadas, Café, chás e bebidas com cafeína, Bebidas gaseificadas.
  • Grandes Refeições e Deitar-se Logo Após Comer: Comer grandes volumes de comida de uma só vez distende o estômago e aumenta a chance de refluxo. Deitar-se com o estômago cheio elimina a ajuda da gravidade para manter o conteúdo gástrico no lugar, facilitando seu retorno ao esôfago.
  • Uso de Certos Medicamentos: Alguns medicamentos podem relaxar o EEI ou irritar o esôfago, incluindo certos anti-hipertensivos (bloqueadores do canal de cálcio), antidepressivos, anti-inflamatórios (como ibuprofeno e aspirina) e bifosfonatos (para osteoporose).

O manejo eficaz do refluxo crônico geralmente começa com a identificação e a modificação desses fatores de risco controláveis.

4. Além da azia, quais outros sintomas podem indicar a presença de refluxo?

Embora a azia e a regurgitação sejam os sintomas cardeais da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), a condição pode se manifestar de maneiras muito mais variadas e surpreendentes. Muitas pessoas sofrem de refluxo crônico sem nunca sentir a clássica queimação no peito. Esses sintomas, conhecidos como atípicos ou extraesofágicos, ocorrem quando o material refluído sobe até a garganta, a laringe ou as vias aéreas, ou quando o refluxo desencadeia reflexos nervosos.

Reconhecer esses sintomas é crucial, pois eles podem levar a investigações em outras especialidades (pneumologia, otorrinolaringologia) antes que o refluxo seja considerado a causa raiz.

Sintomas Esofágicos (além da azia):

  • Regurgitação: A percepção do retorno do conteúdo do estômago para a garganta ou boca, com um gosto ácido ou amargo.
  • Disfagia: Dificuldade para engolir ou a sensação de que a comida está "presa" ou "arranhando" no meio do caminho. Este pode ser um sinal de estreitamento do esôfago (estenose) e é um sintoma de alerta.
  • Odinofagia: Dor ao engolir.
  • Dor Torácica Não Cardíaca: Uma dor ou pressão no peito que pode ser tão intensa a ponto de ser confundida com uma dor de origem cardíaca (angina ou infarto). É fundamental sempre descartar causas cardíacas primeiro, mas o refluxo é uma causa muito comum de dor no peito.

Sintomas Extraesofágicos (Atípicos):

  • Tosse Crônica: Uma tosse seca e persistente, que piora ao deitar ou após as refeições, é um dos sintomas atípicos mais comuns. Ocorre pela irritação das vias aéreas pelo ácido refluído.
  • Laringite Crônica e Rouquidão: A irritação ácida das cordas vocais pode causar inflamação crônica da laringe, resultando em uma voz rouca, especialmente pela manhã.
  • Pigarro e Sensação de "Bola na Garganta" (Globus Faríngeo): A necessidade constante de limpar a garganta ou a sensação persistente de um caroço ou algo preso na garganta são queixas frequentes.
  • Asma e Bronquite: O refluxo pode piorar os sintomas da asma ou até mesmo ser um gatilho para crises, através da microaspiração de ácido para os pulmões ou por um reflexo nervoso que causa o estreitamento dos brônquios.
  • Erosão Dentária e Mau Hálito: O ácido que chega à boca pode desgastar o esmalte dos dentes, especialmente na parte de trás, e causar halitose.
  • Sinusite e Otite de Repetição: Em alguns casos, o refluxo pode contribuir para a inflamação crônica dos seios da face e do ouvido médio.

Se você sofre de algum desses sintomas de forma crônica e sem uma causa aparente, é válido considerar e discutir com seu médico a possibilidade de a Doença do Refluxo Gastroesofágico ser a culpada.

5. Quando o refluxo e a azia deixam de ser normais? Conheça os sinais de alerta.

É crucial saber diferenciar a azia ocasional, que pode acontecer com qualquer um após um excesso alimentar, de um quadro de refluxo crônico que necessita de investigação médica. Além da frequência, a presença de certos sinais e sintomas, conhecidos como "sinais de alarme" ou "red flags", indica que a condição pode ser mais séria e que uma consulta com um gastroenterologista é urgente.

Critérios de Frequência e Impacto:

O refluxo e a azia deixam de ser considerados "normais" e passam a ser clinicamente significativos (sugerindo DRGE) quando:

  • Ocorrem duas ou mais vezes por semana: A frequência é um indicador chave. Um desconforto mensal é diferente de um problema que se repete toda semana.
  • Interferem na sua qualidade de vida: Se os sintomas atrapalham seu sono, limitam suas escolhas alimentares, afetam seu humor ou prejudicam suas atividades diárias.
  • Não melhoram com antiácidos de venda livre: Se os antiácidos simples não proporcionam alívio ou se você precisa usá-los constantemente, é um sinal de que o problema precisa de um tratamento mais robusto.

Sinais de Alarme (Red Flags) que Exigem Atenção Médica Imediata:

A presença de qualquer um dos seguintes sintomas, associados ao refluxo e à azia, não deve ser ignorada, pois pode indicar uma complicação grave:

  • Disfagia (Dificuldade para Engolir): A sensação de que a comida está entalada ou demorando para descer. Pode ser um sinal de estreitamento (estenose) do esôfago devido à cicatrização crônica ou, em casos mais raros e graves, de um tumor.
  • Odinofagia (Dor para Engolir): Sentir dor ao engolir alimentos ou até mesmo líquidos. Isso pode indicar uma inflamação severa (esofagite) ou uma úlcera no esôfago.
  • Perda de Peso Involuntária e Inexplicável: Emagrecer sem estar fazendo dieta ou exercícios é um sinal de alarme para várias doenças, incluindo complicações do refluxo como o câncer de esôfago.
  • Vômitos Persistentes ou com Sangue: Vomitar com frequência ou notar sangue no vômito (que pode parecer vermelho vivo ou com aspecto de "borra de café") é uma emergência médica.
  • Fezes Escuras e com Aparência de Piche (Melena): Isso pode indicar sangramento no trato digestivo superior (esôfago ou estômago).
  • Anemia por Deficiência de Ferro: Se exames de sangue de rotina revelam uma anemia sem causa aparente, ela pode ser resultado de um sangramento crônico e lento no esôfago inflamado.
  • Dor Torácica Intensa: Embora o refluxo possa causar dor no peito, uma dor súbita, esmagadora ou que irradia para o braço, pescoço ou mandíbula deve ser tratada como uma emergência cardíaca até que se prove o contrário.

Se você tem azia frequente e apresenta qualquer um desses sinais de alarme, não hesite. Procure um gastroenterologista o mais rápido possível para uma avaliação completa.

6. Quais são as complicações a longo prazo do refluxo não tratado?

Ignorar os sintomas da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e não procurar tratamento adequado pode levar a uma série de complicações graves e, em alguns casos, irreversíveis. A exposição contínua do delicado revestimento do esôfago ao ácido gástrico causa uma inflamação crônica que pode evoluir para danos estruturais e celulares.

As principais complicações a longo prazo do refluxo não tratado incluem:

  • Esofagite de Refluxo: Esta é a complicação mais comum. A inflamação crônica da mucosa esofágica pode variar de leve (apenas vermelhidão) a severa. Nos casos mais graves, podem se formar erosões (feridas superficiais) e úlceras (feridas mais profundas) no esôfago. A esofagite pode causar dor ao engolir (odinofagia), dor no peito e sangramento.
  • Estenose Esofágica: Quando a inflamação e as úlceras cicatrizam, pode haver a formação de tecido fibroso (cicatricial) que enrijece e estreita o lúmen (o interior) do esôfago. Esse estreitamento, chamado de estenose, causa dificuldade progressiva para engolir (disfagia), começando com alimentos sólidos e podendo evoluir para líquidos. A estenose geralmente requer um procedimento de dilatação endoscópica para ser tratada.
  • Esôfago de Barrett: Esta é uma das complicações mais sérias do refluxo crônico. Em resposta à agressão ácida contínua, o corpo tenta se proteger e substitui as células normais do revestimento do esôfago (epitélio escamoso) por um tipo de célula mais resistente, semelhante ao que reveste o intestino (epitélio colunar com metaplasia intestinal). Essa mudança celular é chamada de Esôfago de Barrett.
  • Adenocarcinoma de Esôfago: O Esôfago de Barrett é uma condição pré-cancerígena. Embora o risco absoluto seja pequeno, as células metaplásicas do Barrett têm um potencial aumentado de sofrerem novas alterações (displasia) e, eventualmente, evoluírem para um tipo de câncer de esôfago chamado adenocarcinoma. A DRGE crônica é o principal fator de risco para este tipo de câncer, que tem aumentado sua incidência nas últimas décadas.
  • Complicações Respiratórias e Otorrinolaringológicas: O refluxo crônico que atinge as vias aéreas pode levar a problemas como pneumonia aspirativa, fibrose pulmonar, piora da asma e danos permanentes às cordas vocais.

Essas complicações ressaltam a importância de não normalizar a azia e o refluxo frequentes. O tratamento adequado, prescrito por um gastroenterologista, não visa apenas o alívio dos sintomas, mas, crucialmente, a prevenção desses danos a longo prazo.

7. O que é o Esôfago de Barrett e qual sua relação com o câncer?

O Esôfago de Barrett é uma complicação séria da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) de longa data e representa a principal preocupação em termos de risco de câncer associado ao refluxo. Ele é definido como uma alteração no revestimento da porção final do esôfago, onde as células normais são substituídas por um tipo de tecido que se assemelha ao do intestino.

Como e Por Que Ocorre?

O revestimento normal do esôfago é formado por um epitélio escamoso estratificado, semelhante ao da nossa pele, que é delicado e não foi projetado para ter contato com o ácido. Em pacientes com DRGE crônica, a agressão contínua do ácido gástrico causa uma inflamação persistente (esofagite). Como um mecanismo de defesa, o corpo pode iniciar um processo de cicatrização anormal, substituindo as células esofágicas danificadas por um tipo celular mais resistente ao ácido: o epitélio colunar com metaplasia intestinal, que é o tecido característico do Esôfago de Barrett. Essa "troca" de tecido é uma adaptação do corpo para se proteger, mas é uma adaptação perigosa.

Relação com o Câncer de Esôfago:

O Esôfago de Barrett é considerado uma condição pré-maligna. Isso não significa que todos que têm Barrett desenvolverão câncer, mas o risco é significativamente maior em comparação com a população geral. O perigo reside no fato de que as células metaplásicas do Barrett são instáveis e podem sofrer novas alterações genéticas, um processo chamado de displasia.

  • Displasia: É o crescimento desorganizado de células anormais dentro do revestimento de Barrett. A displasia é classificada como de baixo grau ou de alto grau. Ela é o passo intermediário entre o Barrett e o câncer. A displasia em si não é câncer, mas é o terreno fértil para seu desenvolvimento.
  • Adenocarcinoma de Esôfago: Se a displasia de alto grau não for tratada, ela pode progredir para o adenocarcinoma, um tipo de câncer de esôfago. A DRGE crônica e o Esôfago de Barrett são os fatores de risco mais importantes para o adenocarcinoma esofágico.

Diagnóstico e Vigilância:

O Esôfago de Barrett não causa sintomas próprios; os sintomas são os do refluxo. O diagnóstico só pode ser feito através de uma endoscopia digestiva alta com biópsias. Durante o exame, o gastroenterologista pode ver uma mudança na coloração do revestimento do esôfago (de rosa-pálido para um vermelho-salmão). Pequenos fragmentos (biópsias) são retirados dessa área e enviados para análise patológica para confirmar a presença da metaplasia intestinal e verificar se há displasia.

Pacientes diagnosticados com Esôfago de Barrett precisam de um acompanhamento regular com endoscopias de vigilância (geralmente a cada 1 a 5 anos, dependendo da presença e do grau de displasia). O objetivo é detectar a displasia precocemente para que ela possa ser tratada com técnicas endoscópicas (como a ablação por radiofrequência), prevenindo a progressão para o câncer.

8. Como o gastroenterologista faz o diagnóstico preciso do refluxo?

O diagnóstico da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é um processo que começa com uma escuta atenta do paciente e, dependendo da situação, pode evoluir para exames mais específicos. O gastroenterologista utiliza uma abordagem escalonada para confirmar o diagnóstico, avaliar a gravidade e descartar outras condições.

As etapas diagnósticas geralmente incluem:

  • Anamnese (História Clínica Detalhada): Este é o passo mais importante. O gastroenterologista fará perguntas detalhadas sobre os sintomas:

    • Características: Como é a sensação (queimação, dor, aperto)? Onde ela se localiza? Irradia para algum lugar?
    • Frequência e Duração: Quantas vezes por semana os sintomas ocorrem? Quanto tempo duram?
    • Gatilhos: Piora com certos alimentos, ao deitar, ao se curvar?
    • Sintomas Associados: Há regurgitação, dificuldade para engolir, tosse crônica, rouquidão?
    • Sinais de Alarme: O médico investigará ativamente a presença de sinais de alerta como perda de peso, disfagia, sangramento, etc.
  • Prova Terapêutica: Em muitos casos de refluxo com sintomas clássicos (azia e regurgitação) e sem sinais de alarme, o gastroenterologista pode optar por um teste terapêutico. Ele prescreve um curso de 4 a 8 semanas de um medicamento inibidor da bomba de prótons (IBP), como o omeprazol. Se os sintomas melhorarem significativamente com o tratamento, o diagnóstico de DRGE é considerado confirmado clinicamente.
  • Exames Complementares: Quando o diagnóstico não é claro, quando há sinais de alarme, ou quando a resposta ao tratamento inicial é insatisfatória, o médico pode solicitar exames mais específicos.

    • Endoscopia Digestiva Alta (EDA): É o exame mais comum. Permite ao médico visualizar diretamente o revestimento do esôfago, estômago e duodeno para identificar inflamações (esofagite), úlceras, estenoses, hérnia de hiato e Esôfago de Barrett. Também permite a realização de biópsias.
    • pHmetria Esofágica de 24 horas: É considerado o "padrão-ouro" para confirmar a presença de refluxo ácido. Um cateter fino com um sensor de pH é inserido pelo nariz até o esôfago e fica posicionado por 24 horas, registrando a frequência e a duração dos episódios de refluxo ácido enquanto o paciente realiza suas atividades normais. É particularmente útil em pacientes com sintomas atípicos ou que não respondem ao tratamento.
    • Impedancio-pHmetria Esofágica: Uma versão mais avançada da pHmetria que consegue detectar não apenas o refluxo ácido, mas também o refluxo não ácido ou gasoso, que pode ser a causa dos sintomas em alguns pacientes.
    • Manometria Esofágica: Este exame mede a força e a coordenação das contrações musculares do esôfago e a pressão do esfíncter esofágico inferior. Não diagnostica o refluxo, mas é importante para avaliar a motilidade do esôfago, especialmente no planejamento de uma cirurgia antirrefluxo.

A escolha dos exames dependerá da apresentação clínica de cada paciente, garantindo um diagnóstico preciso e um plano de tratamento direcionado.

9. O que é a endoscopia digestiva alta e quando ela é necessária?

A Endoscopia Digestiva Alta (EDA), também conhecida simplesmente como endoscopia, é um procedimento fundamental na gastroenterologia para examinar o trato digestivo superior, que inclui o esôfago, o estômago e a primeira parte do intestino delgado (o duodeno).

Como o Exame é Feito?

O procedimento é realizado com o paciente sob sedação leve para garantir conforto e relaxamento. O gastroenterologista utiliza um endoscópio, que é um tubo fino e flexível com uma microcâmera e uma fonte de luz na ponta. O tubo é inserido pela boca do paciente e avançado suavemente pelo esôfago, estômago e duodeno. As imagens capturadas pela câmera são transmitidas em tempo real para um monitor de vídeo, permitindo que o médico inspecione detalhadamente o revestimento mucoso desses órgãos. O exame geralmente dura de 10 a 20 minutos. Se necessário, o médico pode passar pequenos instrumentos pelo endoscópio para realizar biópsias (retirada de minúsculos fragmentos de tecido para análise) ou outros procedimentos terapêuticos.

Quando a Endoscopia é Necessária na Investigação do Refluxo?

A endoscopia não é necessária para todos os pacientes com sintomas de refluxo. Como mencionado, muitos casos são diagnosticados clinicamente. No entanto, a EDA se torna um exame essencial nas seguintes situações:

  • Presença de Sinais de Alarme: Esta é a indicação mais importante. Qualquer paciente com refluxo e sinais de alarme (dificuldade para engolir, perda de peso, vômitos com sangue, anemia) deve realizar uma endoscopia para descartar complicações graves como úlceras, estenoses ou câncer.
  • Sintomas Refratários ao Tratamento: Quando um paciente não apresenta melhora significativa dos sintomas após um curso adequado de tratamento com medicamentos (como os IBPs), a endoscopia é indicada para investigar por que o tratamento não está funcionando e para procurar outras causas para os sintomas.
  • Rastreamento de Esôfago de Barrett: Em pacientes com DRGE crônica de longa data (geralmente mais de 5-10 anos), especialmente homens brancos, acima de 50 anos e com obesidade abdominal, a endoscopia é recomendada para rastrear a presença de Esôfago de Barrett, mesmo que os sintomas estejam controlados.
  • Avaliação da Gravidade da Esofagite: A endoscopia permite classificar a gravidade da inflamação no esôfago, o que pode ajudar a guiar a intensidade e a duração do tratamento.
  • Diagnóstico de Hérnia de Hiato: O exame pode identificar facilmente a presença e o tamanho de uma hérnia de hiato, que é um importante fator contribuinte para o refluxo.
  • Antes de uma Cirurgia Antirrefluxo: A endoscopia é um passo obrigatório no pré-operatório para avaliar a anatomia e descartar outras patologias antes de submeter o paciente ao procedimento cirúrgico.

Em suma, a endoscopia é uma ferramenta poderosa para avaliar a consequência do refluxo no esôfago, e não para diagnosticar o refluxo em si (que é um evento funcional).

10. Quais mudanças na alimentação e no estilo de vida podem controlar o refluxo?

As mudanças nos hábitos diários e na alimentação são a primeira linha de defesa e a base do tratamento para a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE). Para muitos pacientes com sintomas leves a moderados, essas modificações podem ser suficientes para controlar o refluxo e a azia sem a necessidade de medicamentos contínuos. Para aqueles em tratamento medicamentoso, essas medidas ajudam a melhorar a eficácia dos remédios.

Mudanças Comportamentais e de Estilo de Vida:

  • Elevar a Cabeceira da Cama: Esta é uma das medidas mais eficazes para o refluxo noturno. Colocar calços de 15 a 20 cm sob os pés da cabeceira da cama (não apenas usar mais travesseiros, que dobram o abdômen) utiliza a gravidade para ajudar a manter o ácido no estômago durante o sono.
  • Evitar Deitar-se Após as Refeições: Espere pelo menos 2 a 3 horas após o jantar antes de se deitar ou reclinar. Isso dá tempo para o estômago esvaziar parcialmente seu conteúdo.
  • Perder Peso: Para pacientes com sobrepeso ou obesidade, a perda de peso, mesmo que modesta (5-10% do peso corporal), pode reduzir drasticamente a pressão intra-abdominal e melhorar significativamente os sintomas de refluxo.
  • Parar de Fumar: O tabagismo enfraquece o esfíncter esofágico inferior. Parar de fumar traz enormes benefícios para o controle do refluxo e para a saúde geral.
  • Usar Roupas Folgadas: Evite cintos, calças e cintas muito apertadas na região da cintura, pois eles aumentam a pressão sobre o estômago.
  • Comer Refeições Menores e Mais Frequentes: Em vez de três grandes refeições, opte por cinco ou seis refeições menores ao longo do dia. Isso evita a distensão excessiva do estômago.

Mudanças na Alimentação:

A sensibilidade alimentar é muito individual, mas algumas recomendações gerais podem ajudar a maioria dos pacientes.

  • Identifique e Evite Seus Gatilhos: Mantenha um diário alimentar para identificar quais alimentos pioram seus sintomas. Os gatilhos mais comuns a serem observados são: Alimentos Gordurosos e Frituras (Demoram mais para digerir e podem relaxar o esfíncter), Chocolate, Hortelã e Pimenta, Alimentos Ácidos (Tomate (e molhos à base de tomate), frutas cítricas (laranja, limão, abacaxi)), Cebola e Alho Crus, Bebidas (Café, chás com cafeína, bebidas alcoólicas e refrigerantes).
  • Mastigue Bem os Alimentos: Comer devagar e mastigar bem facilita a digestão.
  • Evite Beber Muitos Líquidos Durante as Refeições: O excesso de líquido pode distender o estômago. Prefira beber líquidos entre as refeições.

A implementação dessas mudanças requer disciplina, mas pode proporcionar um alívio duradouro e natural dos sintomas do refluxo e da azia.

11. Quais são os principais medicamentos utilizados para tratar o refluxo e a azia?

Quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para controlar os sintomas da DRGE, o tratamento medicamentoso se torna necessário. Existem diferentes classes de medicamentos que atuam de maneiras distintas para combater o refluxo e a azia, sendo a escolha baseada na frequência e na gravidade dos sintomas.

As principais classes de medicamentos são:

  • Antiácidos:

    • Como Atuam: São medicamentos de ação rápida que neutralizam quimicamente o ácido já presente no estômago. Eles não impedem a produção de ácido.
    • Exemplos: Bicarbonato de sódio, hidróxido de magnésio, hidróxido de alumínio.
    • Uso: São ideais para o alívio imediato e de curta duração da azia ocasional. Não são um tratamento para o refluxo crônico, pois seu efeito dura apenas algumas horas e não ajudam a cicatrizar a inflamação do esôfago.
  • Bloqueadores H2 (Antagonistas dos Receptores de Histamina-2):

    • Como Atuam: Agem bloqueando a ação da histamina nas células do estômago, o que reduz a produção de ácido gástrico. Seu efeito é mais lento que o dos antiácidos, mas mais duradouro (até 12 horas).
    • Exemplos: Cimetidina, ranitidina (retirada do mercado em alguns países), famotidina.
    • Uso: São uma boa opção para sintomas leves a moderados e podem ser usados sob demanda antes de refeições que costumam causar azia ou antes de dormir para prevenir o refluxo noturno. Com o uso contínuo, podem perder a eficácia (taquifilaxia).
  • Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs):

    • Como Atuam: Esta é a classe de medicamentos mais potente e eficaz para o tratamento da DRGE. Eles agem bloqueando de forma potente e prolongada a "bomba de prótons", a etapa final da produção de ácido nas células do estômago. Eles podem reduzir a produção de ácido em mais de 90%.
    • Exemplos: Omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol, dexlansoprazol.
    • Uso: São o tratamento de escolha para refluxo e azia frequentes (duas ou mais vezes por semana), para a cicatrização da esofagite e para o tratamento do Esôfago de Barrett. Devem ser tomados em jejum, 30 a 60 minutos antes do café da manhã, para máxima eficácia. O alívio completo dos sintomas pode levar alguns dias para ser alcançado.
  • Procinéticos:

    • Como Atuam: São medicamentos que ajudam a acelerar o esvaziamento do estômago e podem aumentar a pressão do esfíncter esofágico inferior.
    • Exemplos: Domperidona, metoclopramida.
    • Uso: São usados como terapia adjuvante em casos selecionados de refluxo, especialmente quando há sintomas de digestão lenta e empachamento, mas não são a primeira linha de tratamento devido ao perfil de efeitos colaterais.

A escolha do medicamento, a dose e a duração do tratamento devem ser sempre orientadas por um gastroenterologista para garantir a máxima eficácia e segurança.

12. O uso contínuo de "prazóis" (IBPs) é seguro?

Os Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) – a família de medicamentos terminados em "prazol" como omeprazol, pantoprazol, etc. – revolucionaram o tratamento da Doença do Refluxo Gastroesofágico e outras condições ácidas, sendo extremamente eficazes e, em geral, muito seguros. No entanto, como são amplamente utilizados e, muitas vezes, por longos períodos, surgiram preocupações e debates sobre a segurança do seu uso crônico.

É importante colocar os riscos em perspectiva. A maioria das evidências sobre os efeitos adversos a longo prazo vem de estudos observacionais, que podem mostrar associações, mas não provam uma relação de causa e efeito. Para a maioria dos pacientes que têm uma indicação clara para o uso contínuo de IBPs (como esofagite grave, Esôfago de Barrett ou prevenção de úlceras), os benefícios de usar a medicação superam em muito os riscos potenciais. O risco real e comprovado de complicações do refluxo não tratado, como o câncer de esôfago, é muito maior do que os riscos teóricos associados aos IBPs.

Dito isso, os principais riscos que têm sido associados ao uso crônico de IBPs incluem:

  • Deficiências Nutricionais: A redução drástica do ácido gástrico pode dificultar a absorção de certos nutrientes, como:

    • Vitamina B12: O ácido é necessário para liberar a B12 dos alimentos.
    • Magnésio: A hipomagnesemia (baixo magnésio) é um efeito adverso raro, mas conhecido.
    • Cálcio e Ferro: A absorção pode ser discretamente diminuída.
  • Aumento do Risco de Infecções Intestinais: O ácido do estômago é uma barreira natural contra bactérias ingeridas. A sua supressão pode aumentar ligeiramente o risco de infecções intestinais, como a causada pela bactéria Clostridioides difficile.
  • Risco de Fraturas Ósseas: Alguns estudos observacionais sugeriram uma pequena associação entre o uso prolongado de IBPs e um aumento no risco de fraturas (especialmente de quadril), possivelmente relacionado à má absorção de cálcio. No entanto, essa associação é controversa e não foi confirmada em estudos mais robustos.
  • Doença Renal Crônica: Da mesma forma, alguns estudos mostraram uma associação com o desenvolvimento de problemas renais, mas uma relação causal não foi estabelecida.

A conclusão médica atual é:

  • Os IBPs não devem ser usados indiscriminadamente para sintomas digestivos leves ou sem um diagnóstico claro.
  • Todo paciente em uso crônico de IBPs deve ter sua indicação reavaliada periodicamente pelo seu médico.
  • O objetivo deve ser sempre utilizar a menor dose eficaz pelo menor tempo necessário. Em muitos casos de refluxo leve, o tratamento pode ser feito sob demanda ou por períodos limitados.
  • Para pacientes com indicação clara de uso contínuo, não há motivo para pânico. O monitoramento de vitaminas e minerais pode ser considerado pelo médico. O importante é não interromper o tratamento por conta própria com base em informações alarmistas, mas sim discutir abertamente os riscos e benefícios com seu gastroenterologista.

13. O que é a hérnia de hiato e qual sua relação com o refluxo?

A hérnia de hiato é uma condição anatômica na qual uma parte da porção superior do estômago se projeta para cima, através de uma abertura no diafragma chamada hiato esofágico, e invade a cavidade torácica. O diafragma é o grande músculo que separa o tórax do abdômen. O hiato é a passagem natural por onde o esôfago atravessa o diafragma para se conectar ao estômago.

Tipos de Hérnia de Hiato:

A mais comum é a hérnia de hiato por deslizamento (Tipo I), que corresponde a mais de 95% dos casos. Nela, a junção entre o esôfago e o estômago, juntamente com uma parte do estômago, desliza para cima, para dentro do tórax. Hérnias paraesofágicas, onde uma parte do estômago sobe ao lado do esôfago, são mais raras, mas podem ser mais perigosas.

Relação Direta com o Refluxo:

A hérnia de hiato é um dos principais fatores que contribuem para a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE). Sua presença enfraquece a barreira antirrefluxo de várias maneiras:

  • Separação do Esfíncter e do Diafragma: Em condições normais, o esfíncter esofágico inferior (EEI) é reforçado pela pressão do músculo diafragma que o envolve, como um laço. Quando a hérnia de hiato ocorre, a junção esofagogástrica sobe para o tórax, separando o EEI do diafragma. O esfíncter perde esse importante reforço muscular externo, tornando-se mais fraco e propenso a relaxamentos inadequados.
  • Menor Pressão do Esfíncter: A própria distorção anatômica causada pela hérnia pode diminuir a pressão de repouso do EEI.
  • Reservatório de Ácido: A porção do estômago que hernia para o tórax pode funcionar como um pequeno reservatório de ácido, que fica posicionado acima do diafragma. Esse conteúdo pode refluir mais facilmente para o esôfago, especialmente quando a pessoa se deita.

É importante notar que nem toda pessoa com hérnia de hiato tem refluxo, e nem toda pessoa com refluxo tem hérnia de hiato. No entanto, a coexistência das duas condições é extremamente comum, e a presença de uma hérnia grande geralmente está associada a sintomas de refluxo mais severos e a uma maior probabilidade de esofagite.

O diagnóstico da hérnia de hiato é geralmente feito durante uma endoscopia digestiva alta ou em exames de imagem, como o raio-X contrastado do esôfago. O tratamento da hérnia de hiato em si só é necessário se ela estiver causando sintomas significativos de refluxo ou, em casos raros de hérnias gigantes, complicações como estrangulamento. O tratamento é, na verdade, o tratamento da DRGE, que pode ser clínico ou cirúrgico.

14. A cirurgia é uma opção para o tratamento do refluxo? Para quem é indicada?

Sim, a cirurgia é uma opção de tratamento muito eficaz para a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), mas ela é reservada para casos específicos. O procedimento cirúrgico, conhecido como fundoplicatura, tem como objetivo reconstruir e fortalecer a barreira antirrefluxo, criando uma nova "válvula" na junção entre o esôfago e o estômago.

Como a Cirurgia é Feita?

A técnica mais comum é a Fundoplicatura de Nissen, realizada por videolaparoscopia (cirurgia minimamente invasiva). O cirurgião utiliza uma parte do próprio estômago (o fundo gástrico) para envolver o esôfago inferior, como se fosse um cachecol. Essa "abraçada" do estômago ao redor do esôfago aumenta a pressão na região do esfíncter esofágico inferior, impedindo mecanicamente o retorno do conteúdo gástrico. Se houver uma hérnia de hiato, ela é corrigida no mesmo procedimento (hiatoplastia), com o estômago sendo reposicionado no abdômen e a abertura do diafragma sendo suturada para ficar mais justa.

Para Quem a Cirurgia é Indicada?

A cirurgia antirrefluxo não é para todos. A decisão deve ser cuidadosamente ponderada entre o paciente e uma equipe médica experiente (gastroenterologista e cirurgião). As principais indicações são:

  • Falha ou Intolerância ao Tratamento Clínico: Pacientes que, mesmo com doses otimizadas de medicamentos (IBPs), continuam com sintomas significativos, especialmente regurgitação e sintomas atípicos.
  • Pacientes Jovens que Desejam Suspender a Medicação: Para pacientes jovens que têm um diagnóstico confirmado de DRGE e que precisariam tomar medicamentos pelo resto da vida, a cirurgia pode ser uma alternativa atraente para se livrar da dependência da medicação crônica.
  • Presença de Complicações da DRGE: Pacientes com esofagite grave e recorrente, estenoses ou Esôfago de Barrett com displasia podem ser candidatos, embora a cirurgia não elimine a necessidade de vigilância do Barrett.
  • Sintomas de Volume ou Regurgitação Intensa: A cirurgia é particularmente eficaz para controlar a regurgitação, um sintoma que muitas vezes não responde bem aos medicamentos, que apenas reduzem a acidez do material refluído, mas não o refluxo em si.
  • Presença de Hérnia de Hiato Grande e Sintomática: Nesses casos, a correção cirúrgica é muitas vezes a melhor opção.

Considerações Importantes:

Antes da cirurgia, é obrigatória a realização de exames pré-operatórios, como a endoscopia, a pHmetria (para confirmar objetivamente o refluxo patológico) e a manometria esofágica (para garantir que o esôfago tem força contrátil suficiente para empurrar a comida através da nova válvula). A cirurgia de fundoplicatura tem altas taxas de sucesso no controle dos sintomas, mas como todo procedimento, tem riscos e possíveis efeitos colaterais, como dificuldade para engolir (disfagia), aumento de gases e dificuldade para arrotar ou vomitar. A escolha pela cirurgia deve ser uma decisão bem informada, ideal para o paciente certo.

15. O refluxo pode causar sintomas respiratórios como tosse crônica e asma?

Sim, a ligação entre a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e uma variedade de sintomas respiratórios é bem estabelecida e representa uma das manifestações extraesofágicas mais comuns e desafiadoras da doença. Muitas vezes, os pacientes procuram pneumologistas ou otorrinolaringologistas por anos sem que a causa real – o refluxo – seja identificada.

A DRGE pode causar ou agravar problemas respiratórios através de dois mecanismos principais:

  • Mecanismo Direto (Microaspiração): Este é o mecanismo mais intuitivo. Pequenas gotículas do conteúdo ácido do estômago refluem até a garganta e a laringe e são inadvertidamente inaladas (aspiradas) para as vias aéreas, especialmente durante o sono. Esse material ácido é extremamente irritante para o revestimento sensível da traqueia, dos brônquios e dos pulmões. A aspiração crônica de pequenas quantidades de ácido pode levar a:

    • Tosse Crônica: Uma tosse seca, irritativa e persistente, que piora ao deitar ou após as refeições. É uma tentativa do corpo de limpar as vias aéreas do material irritante.
    • Piora da Asma: Em pacientes asmáticos, a microaspiração de ácido pode causar inflamação direta nos brônquios, aumentando a hiper-reatividade das vias aéreas e servindo como um gatilho para crises de asma de difícil controle.
    • Pneumonia Aspirativa e Bronquite: Em casos mais graves ou em pacientes com dificuldade de deglutição, a aspiração pode levar a infecções pulmonares recorrentes.
  • Mecanismo Indireto (Reflexo Vagovagal): Este mecanismo é mais sutil e não requer que o ácido chegue fisicamente aos pulmões. O esôfago e os brônquios compartilham uma inervação comum através do nervo vago. Quando o ácido reflui para a parte inferior do esôfago, ele irrita as terminações nervosas locais. Essa irritação envia um sinal para o cérebro através do nervo vago, que, por sua vez, pode disparar um sinal de reflexo de volta para os pulmões, causando a contração dos brônquios (broncoespasmo) e o aumento da produção de muco. Esse reflexo pode desencadear tosse e sintomas de asma mesmo sem nenhuma aspiração.

A DRGE deve ser considerada em qualquer paciente com tosse crônica inexplicada ou asma de difícil controle, especialmente se houver outros sintomas sutis de refluxo (como pigarro ou rouquidão) ou se os sintomas piorarem à noite. Em muitos desses casos, o tratamento agressivo do refluxo com inibidores da bomba de prótons (IBPs) pode levar a uma melhora dramática dos sintomas respiratórios.

16. Onde procurar ajuda especializada para o diagnóstico e tratamento do refluxo?

Procurar a ajuda correta é o passo mais importante para quem sofre com refluxo e azia persistentes. Ignorar os sintomas ou depender apenas de antiácidos de venda livre pode mascarar um problema mais sério e permitir o desenvolvimento de complicações. O profissional de saúde mais qualificado para investigar e tratar a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é o médico gastroenterologista.

O gastroenterologista é o especialista do sistema digestivo, o que inclui o esôfago, o estômago e os intestinos. Procurar este especialista é fundamental pelas seguintes razões:

  • Diagnóstico Preciso: Ele é treinado para diferenciar a DRGE de outras condições que podem causar sintomas semelhantes, como gastrite, úlceras, problemas na vesícula biliar ou até mesmo condições cardíacas.
  • Investigação Completa: O gastroenterologista sabe quando exames como a endoscopia digestiva alta são necessários, seja para investigar sinais de alarme, avaliar a gravidade da esofagite ou rastrear o Esôfago de Barrett. Ele é o profissional habilitado para realizar este procedimento.
  • Tratamento Individualizado: Ele pode prescrever o tratamento mais adequado para cada caso, desde orientações detalhadas sobre dieta e estilo de vida até a escolha da classe e da dose correta de medicamentos. Ele também sabe quando e como reduzir ou suspender a medicação de forma segura.
  • Manejo das Complicações: O gastroenterologista é o especialista que diagnostica e acompanha as complicações do refluxo, como o Esôfago de Barrett, estabelecendo um plano de vigilância endoscópica para prevenir o câncer.
  • Indicação Cirúrgica: Ele trabalha em conjunto com o cirurgião do aparelho digestivo para identificar os pacientes que são bons candidatos ao tratamento cirúrgico e para garantir que toda a avaliação pré-operatória necessária seja feita.

Na Clínica Apoena Saúde, nossa equipe de gastroenterologia está dedicada a fornecer um atendimento completo e humanizado. Entendemos o impacto que o refluxo e a azia podem ter na sua vida diária e estamos equipados para realizar uma investigação aprofundada, oferecendo desde orientações de estilo de vida até procedimentos diagnósticos avançados, sempre com o objetivo de restaurar sua saúde digestiva e seu bem-estar.

17. Conclusão

Chegamos ao fim deste guia completo sobre refluxo e azia. Esperamos ter esclarecido que, embora comuns, esses sintomas não devem ser normalizados quando se tornam frequentes. Eles são o principal sinal da Doença do Refluxo Gastroesofágico, uma condição crônica que merece atenção e cuidado adequado para evitar desconforto e complicações graves a longo prazo.

Entender o funcionamento do seu corpo, reconhecer os sinais de alerta e saber que existem tratamentos eficazes são os primeiros passos para tomar o controle da sua saúde digestiva. Desde mudanças no estilo de vida e na alimentação até tratamentos medicamentosos e cirúrgicos, há um vasto leque de opções disponíveis. O mais importante é não sofrer em silêncio.

O acompanhamento com um gastroenterologista é essencial para um diagnóstico preciso, um plano de tratamento seguro e a prevenção de problemas futuros. Cuidar do seu sistema digestivo é um investimento direto na sua qualidade de vida, permitindo que você desfrute das refeições e do seu dia a dia sem medo, dor ou queimação.

Conteúdo desenvolvido pela Apoena Saúde.

Na Clínica Apoena Saúde, estamos prontos para ajudá-lo a encontrar alívio para o seu refluxo e azia. Nossa equipe de especialistas em gastroenterologia oferece um atendimento acolhedor e baseado em evidências, com acesso a exames modernos para um diagnóstico completo. Nosso compromisso é com a sua saúde e o seu conforto.

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